Poema Concorrente da BPP7 - nº 58
Poema empático
Para Rander Barbosa
O bálsamo exala na mansarda...
No fogão à lenha morna o café moído à tardinha,
O cãozinho chega correndo na cozinha e seu amável dono o serve angú com sobra do jantar...
A noite envolve a casinha que lá, no fundo do vale, sozinha, é banhada de prata pela lua crescente...
Na cozinha, potes com temperos, manjericão, orégano, pimenta do reino, farinhas de mandioca e de milho, e
[ uma compota com doce de figo...
O homem de barbas brancas manuseia um livro e nele bebe palavras como se bebesse vinho...
(não que, à sua idade, ele já desconfie do encanto artificioso dos vocábulos, mas alguns livros,
[ poucos, ainda o extasia pelo que contêm)
Quem o vê lá ao longe não sabe de sua biografia, o que o levou até ali a compor aquele ambiente
[ bucólico e solitário...
Farto da ceia, o homem relê uns versos de Bastos Tigre...
Amanhã irá colher alfaces para dar a uma menina que passa por ali...
Lembra um desgosto ou outro, mas logo os deixa para ouvir os sapos coaxarem no brejo defronte...
Enche um copo d’água e o coloca ao lado da cama e reza para que os espíritos bons o protejam...
Deitado e com os olhos fechados, o homem ainda tem um ou outro lampejo de pensamento,
As sensações as mais variadas passam pelo seu corpo, mas cessando o poderoso cérebro, o homem
[ mergulha num torpor... lá fora os pirilampos...
...........
Ao amanhecer, o homem bebe um gole d’água e côa o café...
Ao fundo da casinha, ele joga milho às galinhas e fubá aos canários...
Uma sarna há dias o faz coçar a virilha, mas ele não se importa, é até bom coçar-se a vontade, coisa que
[ antes fazia às escondidas...
Uma platéia de alunos antes o mirava, professor era, dando matéria de literatura, quando não aturava outra
[ tarefa...
Assim, levou a vida, casou, descasou, teve filhos e os criou, sem descuidar do menino dentro de si...
Carregou herança da cidade natal, lugarejo desencontrado num mapa de montanhas...
Lá fez amizades, fazendo outras na metrópole, pois Amizade é sentimento que tem em alta conta...
...........
Ó anônimo sentimentalista e experimentalista, mote da poesia! Tu sentiste e experimentaste várias coisas
[ ao longo de tua vida, diz-me, o que queres mais dela?
Nos livros, tu tiveste aventuras; na vida tu tiveste outras ainda, diz-me, o que queres mais?
Como se não bastasse, considerou a eternidade da Alma e a partir disso, tiveste outras aventuras!
Leste “Elogio da Loucura” de Erasmo Rotterdam, “Grandes Sertão: Veredas”, leste os Salmos e os
[ Evangelhos, leste Emmanuel por Chico Xavier e leste o Conde Rochester...
Leste as plantas do seu quintal, o Cará, a Banana, leste das flores a Violeta, a Orquídea, o Ipê Preto e leste o
[ Bálsamo...
Tu, que tanto lera, tenta ler a si mesmo, sempre que o deixam e pode o fazer, tenta ler o Outro
[ que o censura e o exalta, e tenta sempre se ater....
...........
Já é o final de outro dia, o homem medita sobre as possibilidades e impossibilidades de sua vida, quer
[ achar o que mais lhe apetece, quer encontrar o que há de Verdade em si...
O Ambiente, mesmo com as alterações humanas, tenazmente reproduz os ciclos naturais...
O dia adormece, nasce crescente a lua de cristal, e tudo se configura novamente, num mágico
[ espetáculo celestial...
Vênus mostra sua face, Marte aparece altivo, Tudo é um pouco mais que Lindo e, na terra, os homens
[ celebram São João...
Uma trupe de violeiros passa por ali e o homem logo os convida a entrar,
O sanfoneiro dá o tom e os violões choram a Perda e a Saudade de um tempo remoto...
O homem sente o Perdão e deixa cair uma lágrima... (antes se livrasse da mágoa)
Faz-se festa e dela o cansaço que vem depois,
Todos se despedem e o anfitrião é deixado a si.
O incenso exala na mansarda,
O homem fuma e mira o Nada...
Vinícius Fernandes Cardoso,
Contagemtown, agosto de 2010.
Poema Concorrente da BPP7 - nº 59
Siamed abias oãn ue ueq odnum essen adan met oãn e sárta sona lim zed ah icsan uE.
Um dia, numa praia do Havaí
a procura de aventura e de Patrick Swaze,
me deparei com Elvis Presley sentado na areia.
Com uma cuia de esmola e uma viola na mão
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