A Bienal dos Piores Poemas é um evento realizado em Belo Horizonte pelo Grupo Oficcina Multimédia da Fundação de Educação Artística. Nossa intenção é prestar homenagem a todas as manifestações humanas que tentam de alguma forma lidar com o inexplicável, o indizível, o impalpável e com a necessidade e curiosidade do Homem de buscar respostas para suas dúvidas.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Mais poemas...
Poema Concorrente da BPP7 - nº 58
Poema empático
Para Rander Barbosa
O bálsamo exala na mansarda...
No fogão à lenha morna o café moído à tardinha,
O cãozinho chega correndo na cozinha e seu amável dono o serve angú com sobra do jantar...
A noite envolve a casinha que lá, no fundo do vale, sozinha, é banhada de prata pela lua crescente...
Na cozinha, potes com temperos, manjericão, orégano, pimenta do reino, farinhas de mandioca e de milho, e
[ uma compota com doce de figo...
O homem de barbas brancas manuseia um livro e nele bebe palavras como se bebesse vinho...
(não que, à sua idade, ele já desconfie do encanto artificioso dos vocábulos, mas alguns livros,
[ poucos, ainda o extasia pelo que contêm)
Quem o vê lá ao longe não sabe de sua biografia, o que o levou até ali a compor aquele ambiente
[ bucólico e solitário...
Farto da ceia, o homem relê uns versos de Bastos Tigre...
Amanhã irá colher alfaces para dar a uma menina que passa por ali...
Lembra um desgosto ou outro, mas logo os deixa para ouvir os sapos coaxarem no brejo defronte...
Enche um copo d’água e o coloca ao lado da cama e reza para que os espíritos bons o protejam...
Deitado e com os olhos fechados, o homem ainda tem um ou outro lampejo de pensamento,
As sensações as mais variadas passam pelo seu corpo, mas cessando o poderoso cérebro, o homem
[ mergulha num torpor... lá fora os pirilampos...
...........
Ao amanhecer, o homem bebe um gole d’água e côa o café...
Ao fundo da casinha, ele joga milho às galinhas e fubá aos canários...
Uma sarna há dias o faz coçar a virilha, mas ele não se importa, é até bom coçar-se a vontade, coisa que
[ antes fazia às escondidas...
Uma platéia de alunos antes o mirava, professor era, dando matéria de literatura, quando não aturava outra
[ tarefa...
Assim, levou a vida, casou, descasou, teve filhos e os criou, sem descuidar do menino dentro de si...
Carregou herança da cidade natal, lugarejo desencontrado num mapa de montanhas...
Lá fez amizades, fazendo outras na metrópole, pois Amizade é sentimento que tem em alta conta...
...........
Ó anônimo sentimentalista e experimentalista, mote da poesia! Tu sentiste e experimentaste várias coisas
[ ao longo de tua vida, diz-me, o que queres mais dela?
Nos livros, tu tiveste aventuras; na vida tu tiveste outras ainda, diz-me, o que queres mais?
Como se não bastasse, considerou a eternidade da Alma e a partir disso, tiveste outras aventuras!
Leste “Elogio da Loucura” de Erasmo Rotterdam, “Grandes Sertão: Veredas”, leste os Salmos e os
[ Evangelhos, leste Emmanuel por Chico Xavier e leste o Conde Rochester...
Leste as plantas do seu quintal, o Cará, a Banana, leste das flores a Violeta, a Orquídea, o Ipê Preto e leste o
[ Bálsamo...
Tu, que tanto lera, tenta ler a si mesmo, sempre que o deixam e pode o fazer, tenta ler o Outro
[ que o censura e o exalta, e tenta sempre se ater....
...........
Já é o final de outro dia, o homem medita sobre as possibilidades e impossibilidades de sua vida, quer
[ achar o que mais lhe apetece, quer encontrar o que há de Verdade em si...
O Ambiente, mesmo com as alterações humanas, tenazmente reproduz os ciclos naturais...
O dia adormece, nasce crescente a lua de cristal, e tudo se configura novamente, num mágico
[ espetáculo celestial...
Vênus mostra sua face, Marte aparece altivo, Tudo é um pouco mais que Lindo e, na terra, os homens
[ celebram São João...
Uma trupe de violeiros passa por ali e o homem logo os convida a entrar,
O sanfoneiro dá o tom e os violões choram a Perda e a Saudade de um tempo remoto...
O homem sente o Perdão e deixa cair uma lágrima... (antes se livrasse da mágoa)
Faz-se festa e dela o cansaço que vem depois,
Todos se despedem e o anfitrião é deixado a si.
O incenso exala na mansarda,
O homem fuma e mira o Nada...
Vinícius Fernandes Cardoso,
Contagemtown, agosto de 2010.
Poema Concorrente da BPP7 - nº 59
Siamed abias oãn ue ueq odnum essen adan met oãn e sárta sona lim zed ah icsan uE.
Um dia, numa praia do Havaí
a procura de aventura e de Patrick Swaze,
me deparei com Elvis Presley sentado na areia.
Com uma cuia de esmola e uma viola na mão
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Poemas Concorrentes da BPP7
Poema concorrente da BPP7 - nº 56
Opus 1.
A pior coisa a priore, que pode acontecer
Com um poeta, é a posteriore,
Ele escrever um poema que não
O melhore; ser normal é fácil,
Agrada, agradecem; é abraçar um
Elemento natural e sobreviver
No meio como produto adaptado;
O inconcebível é conceber,
Entre a pele e o osso, o extrato
Sobrenatural, visitar no limbo,
A moradia dos fantasmas, com
Os pés costurados no chão e a cruz
Pregada nas costas, vergar vergalhões,
Domar turbilhões e clamar por Deus,
Para afastar assombrações; cometemos
E cometem aberrações, bizarrices,
Anomalias, blasfêmias, estupros,
Em nome de todos os santos,
Inclusive beatificações e canonizações,
Sem esquecer os milagres;
Eu transformo tudo em dor, sou
Um Midas; faço quem anda, deixar
De andar; quem está são, adoecer
E quem está vivo, morrer: o que
Também não deixa de ser milagres;
E nem por isso quero seguidores,
Nem quero ter fieis, templos ou orações
Endereçadas a mim; e nem por isso
Quero imagens minhas para serem
Adoradas e nem semonias pagãs
Em meu nome; não me consagrem
Nada, ouviram, ou vocês são deuses
Surdos? estátuas peregrinas humanas,
Ou Davis nus em praças italianas.
Stuv Xyz
Poema concorrente da BPP7 - nº 57
Opus 2.
Escollham com sabedoria o destino
Dos seus restos mortais, imortais
Sonâmbulos, que vagueiam na
Noite do dia, acordados mas
Que parecem passarinhos a dormir,
Em plena atividade do pesadelo
Cotidiano; não sonhem pois não
Têm o direito a sonhar; rilhem
Os dentes; as hienas riem e comem
Carniças; ingerimos porcarias a
Toda hora, que nos incham
A barriga, nos enchem de gases
Fétidos e aparentamos caras
De satisfeitos por cima da máscara;
A nossa carapuça está é por
Baixo; precisamos de alguém
Com coragem, que tire nossa
Pele, e exponha a nossa realidade
Em vida, a nossa carne viva,
Com o coração ainda pulsando,
Como é feito com os animais,
Que têm a pele retirada com o
Bicho ainda vivo, quando não
Querem que o couro seja estragado
E o casaco que será feito. terá
Uma aparência sempre renovada;
Escolham suas loucuras, cada
Um esconde uma num recôndito,
Não muito distante; cada um
Tem uma doença que pensa que
Não tem cura, mas querem um
Corpo sempre plástificado, para que
Os vermes famintos, roedores
De ossos, façam um banquete,
Um festim em homenagem,
Aos nossos restos mortais.
Stuv Xyz
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Novos poemas...
Poema concorrente da BPP7 - Nº 54
O Anjo Azul
Vivemos num mundo tão
Boçal
Banal
Animal
Carnal
Que, o que me consola mesmo
É ser um ser
Transcendental!
Marlene Dietrich
Poema concorrente da BPP7 - Nº 55
Quem seria?
-Alguém vem vindo lá.
-Onde?
-Lá, bem longe.
-Não vejo nada, quem será?
-Uma dama ou um monge.
-Será? Mas por que se esconde?
-Ele vem vindo e não se esconde.
- Não vejo ninguém! Ele vem por onde!
-Você não o vê e nem poderia
-Por que não, se estamos juntos
-Por que para você ele não apareceria.
-Então se trata de um fantasma
-Ou um defunto.
-Mas de quem, de quem seria?
-De um facínora?
-Que virou presunto?
-Ou de alguém que um dia eu amaria.
O Fascínora
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Já são 53 poemas...
Poema concorrente da BPP7 - Nº48
Pavor por favor.
O menino atrás da porta
O barulho na escada, é gente morta.?
almas do além que vão e vem.
cruzes, emblemas e magia
fantasmas não tem ideologia.
Vivem do medo,
vivem da imaginação
vivem no porão.
sem eira nem beira
o defunto levanta do caixão.
cabulozoo
Poema concorrente da BPP7 - Nº49
O VISITANTE NOTURNO
Numa noite fria de inverno, escura , e silenciosa
Ouvi de repente ao longe, soar um ruído estranho
Lentamente abri os olhos devagar,e temerosa
Cobri parte do meu rosto e quieta fiquei observando
Chovia fino
O vento assobiava
As janelas rangiam
A coruja piava
Com os olhos semi –cerrados, apenas entreabertos
Percebi apavorada de longe um vulto passando
Tinha um corpo branco difuso, os movimentos espertos
Olhos fundos, encovados e longos cabelos castanhos
Com passo lentos e respiração e fria
Aproximou-se suave e segurou-me pelas mãos
Minha cabeça de leve sacudia
Apertando com força o meu coração
Por que temes a morte e não a sorte?
Disse-me então com voz rouca, e cavernosa
A morte é certa, tolinha, a sorte duvidosa,
Injusta cruel, sorrateira e caprichosa
Tão rápida e ligeira , breve como o vento
A forma estranha num instante se esvaneceu
E eu tomada de espanto grande parte do tempo
Parada fiquei pensando como isto aconteceu
(Ismália na torre)
Poema concorrente da BPP7 - Nº 50
aXombrações
Um dia, Baixinho,
Liguei a tevê
A loura cantava
I la ri la ri ê
Eu perguntava sem pudor:
- Ela vem de nave ou de disco voador?
- Ela é mulher ou ET?
- Porque que todo mundo vê?
Ela sorridente aparecia,
De manhã e de tarde, todo dia.
Numa nave ela vinha
Com botas longas e coroa de rainha.
Um café da manhã ela servia
Pão de queijo pro adulto, pra criança e docemente pro bebê.
Ela de lá sempre dizia
Beijo pro pai, pra mãe e especialmente pra você!
Eu acordei anos depois
E percebi que um mais um não são dois.
Tudo que é perfeito
De descobertas é desfeito.
Não tenho medo de alma penada,
Nem de histórias de terror,
Mas confesso:
Desde que sou pequena
De aXombrações tenho pavor!
Angélica Huck
Poema concorrente da BPP7 - Nº 51
Amorpaixão
Eu trago a pessoa amada
Tenho diploma da Federação.
Sou desenvolvida e preparada
Trabalho forte para união.
Seja qual for seu problema
Você precisa de orientação.
Atendo só com hora marcada
Então muita atenção!
Vudu, simpatia, amarração,
rezas, banhos, pronto! Voltou sua paixão!
Irmã Dulce da Consoloção
Poema concorrente da BPP7 - Nº 52
Natural
O sobrenatural é natural.
Realino
Poema concorrente da BPP7 - Nº 53
Na Vila
shshsh shshsh shshsh
uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
trr trr trr trr trr trr
Ohhhhhhhhhh Ohhhhhhhhhhh
Caaaaannnnnnnterrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
CAAnnnnnnnnnnnnnterrrrrrrrrrrrrrr
CAAAAnnnnnnnnnnnnnnnterrrrrrrr
VILLE!
Oscar
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Novos poemas concorrentes da Bienal Sobrenatural!!!
Poema concorrente da BPP7 - Nº38
SobreoSobrenatural
Bicho de pé
Bicho papão
Eu tenho medo
Da escuridão
Vidas passadas
Almas penadas
Eu tenho medo
De encruzilhadas
Um crucifixo
No paletó
Se tenho que morrer
Me mate de dó
Fico suado
Só em pensar
Em uma vida
No Nosso Lar
Quero viver
Longe do Avarento
Uma vida santa
Linda e sem tormento
Poema concorrente da BPP7 - Nº39
TANTASNEIRAS
Foram tantasneiras tolas
In-sórtidas
In-vértidas
Quanquarém fez a voz
Do fênz do fim do fato.
Quanquarém citou
Quanquarém ditou
Quanquarém calou a voz
Do fêns do fim do fato.
Mágic Plin
Poema concorrente da BPP7 - Nº40
TRANZA
Onde a carne não sacia
Morre noite faz-se dia
Mágic Plin
Poema concorrente da BPP7 -Nº41
174
Na estação
De tantos anos
A solidão é tão complexa
A lua estraga a noite
O vinho me detesta.
Mágic Plin
Poema concorrente da BPP7 - Nº42
VILA RICA
A tarde tem gosto
E cheiro de
Ouro.
O vento frio corta
O osso e queima
A pele e a alma preta
Ainda que penada
Mágic Plin
Poema concorrente da BPP7 - Nº43
O SORVETE E O PALHAÇO
Escorre
Como sorvete cremoso
O sangue
Na boca do palhaço
Que num sorriso
Delicioso
Diz
Menino malvado.
Mágic Plin
Poema concorrente da BPP7 - Nº44
SOBRE MENINOS E POMBOS
Asas de pombas cortadas
Plumas que caem no chão.
Menino de cara lavada
Respingos de sangue na mão.
Mágic Plin
Poema concorrente da BPP7 - Nº45
se encontram
o misterio e a certeza
num ponto final.
Janete Clear
Poema concorrente da BPP7 - Nº46
Ode numero 1
Oh vos que sondas as camaras imemoriais
da aurora galenteador de ninfas
falo reconvivido de extase dervìxico
Oh vos que sonhas e sonhas
Senti! Oh sentimentalista
pois o vao momento se abre
e o aconchego lucido de Tantalo
se desvanesce na efervecencia juvenil
Oh mistico desterrado em bodegas naufragas da noite
o botim te espera no lar materno tardio
Oh Heroi o torvelinho se aproxima e nao ha
Nao ha em alguma parte ponte capaz
de te afastar do eminente desfecho
Oooh Devoradora de homens auspiciosa eh tua morada
rugurgito teu proibido nome nas manhas calidas dos tropicos
Na alquimia secreta das palavras, o elixir do exilio
Adeus minerio fetero pulsante, destarte eh seu fragoso timbre
Adeus gazelas; faunos roncinantes
Adeus agua de bilha servida aos infantes
pois que chega o sibilo trinado
aos labirintos rotos empapados em resinas
Oh Poeta aceita sua sina
de saber o nao sem nome, o sim das curvas;
das ruas sem esquinas.
Alberto de Campos
Poema concorrente da BPP7 - Nº47
Vai meu irmao!
O taxi espera
que vc nao venha
Caique Bote
terça-feira, 16 de novembro de 2010
E a concorrência não para de aumentar!!!!
Poema concorrente da BPP7 - Nº21
Com a pulga atrás da orelha.
Uma cigana me previu
Coisas que ninguém nunca
Imaginou
Depois sutilmente ela sorriu
E dengosa
Me provocou
Filhinha você nunca pensou
Que o que hoje lhe dói, amanhã certamente
Se evaporou?
Pelo dito e pelo não dito
A cigana se desculpou
Levantou-se calmamente e discreta
Se retirou.
E eu?
....................................................
....................................................
Fiquei com a pulga atrás da orelha.
(Maria Candelária)
Poema concorrente da BPP7 - Nº22
Petit Mort
ela quer andar de mãos dadas
com a lolita que lhe deu sorvete
tem os peitinhos cor de pitanga
e mora no vale do loire
ela quer pegar na cintura
da mestra esbelta e ruiva
que fuma debaixo da chuva
nas escadarias da notre dame
ela quer beijar a vulva
da dançarina do moulin rouge
que morreu afogada no rio sena
e reaparece nas noites de lua cheia
ela quer chupar os seios
da vampira que saiu do filme
e acariciou suas coxas brancas
entre os túmulos do père lachaise
ela quer passar a mão na bunda
da dama de roupas negras
que vaga sem cabeça pelas ruas de paris
foi guilhotinada na revolução francesa
ela quer entrar na tela do italiano
masturbar a mona lisa
e sair limpando os dedos
nas saias das bailarinas de degas
ela quer cheirar a calcinha de frida kahlo
e depois se deitar com ela
no quarto amarelo de van gogh
o seu desejo não tem juízo
ela quer morder o pescoço
das prostitutas de lautrec
gozar na boca da vênus de milo
e enfiar a língua na origem do mundo
Cindir
Poema concorrente da BPP7 - Nº23
I
do alto vôo dos seus pés
vou parar bem ali
onde encontro a mil pés
suas mãos
unidos em milhares de nós
nossas paixões se desfazem perdidas
hoje você desfilou do céu a terra
e nunca se soube de quem era aquele batom que deixou
a vida borrada,
fora esta ressaca infinita
fora o que ficou do que não é nem meu, nem seu
será que são os humores
ou as drogas
Sá Fouet
Poema concorrente da BPP7 - Nº24
II
deixe-me levá-la além
pois já estou a caminho
entre a corda
e tudo o que vc me pediu
e nunca fiz nada em troca
isso é amor?
respondia para si:
- é
mas eu não estou tensa, nem quero
a química tem seu valor
às vezes é bom ser
quem os outros pensam que é
(ao mesmo tempo que falava escutava)
e ali se libertava
era isto quase o tempo inteiro
fazia tudo o que queriam
e desejava o que desejam para si
quase o tempo inteiro
Sá Fouet
Poema concorrente da BPP7 - Nº25
III
por isso berrava, bebia e brigava
soltava mesmo os ferros nos verbos
devaneava de paixões
entardeercia de violões
quem disse que os sons tinham tempo
o fim do mundo não lhe passava de uma idéia
mesmo no fim algo profana a eternidade
não era linda aquela poesia
sua tristeza
e sua alegria
Sá Fouet
Poema concorrente da BPP7 - Nº26
IV
onde se pode escrever
onde se pode dizer
onde se pode pensar
onde se pode crer
onde se pode ir
não fomos a escola
nem fizemos o mobral
não aprendemos a andar
nem a falar
desde sempre nos encontramos
e cá estamos
rabiscando as paredes
Sá Fouet
Poema concorrente da BPP7 - Nº27
O verbo
violento do amor
a trepada
expressão idílica da dor
A ausência plena da paixão
Oh abadia in fértil
Claustro da juventude perdida
E não estamos todos aqui
No ventre tardia do gozo
O verbo pragueja como o vento
Ventre seco do amor
Sá Fouet
Poema Nº28
Fogo
quando voei pela rua
havia uma nuvem
encostada no carro
dos bombeiros
apagando o fogo
que queimava o asfalto
e a roda de aço
da carrocinha de pipoca
espalhou os milhos
que saltavam pelo calor
ploc, ploc, ploc
cresciam a nuvem
condensando a chuva
que apagou o incêndio
Galo
Poema concorrente da BPP7 - Nº29
Marte
há arte
em marte
por toda parte
poeira cantante
neoclássica
pixando o encarte
do marciano rapper
a falar-te
por partes as partes
que a arte de marte
demarca o roubar-te
do sono
de quem bate
na mesma parte
da mesma arte
e não percebe
que a água
não inicia a vida
e sim a parte
que nos cabe
da arte
que nos descabe
de marte
que nos acabe
há arte
em marte
por toda parte
Galo
Poema concorrente da BPP7 - Nº30
A chico Xavier
me explica o mistério
quem é bom entendor
que não há aqui
nessas teclas
qualquer informação que me valha
qualquer essência vívida, tateável
onde seremos
então
que se nem no papel
que se nem nos milênios de civilização
houve qualquer
luz
sobre essa escuridão
que me ilumina
tanto
a escerever
palavras e palavras
tentando entender
buscando na arte
algum sentido metafísico
alguma religiosidade
o cristianismo limita
o islamismo limita
o espiritismo limita
o islã, tupã, a vã filosofia
onde então recorrer
se o poeta não dá conta
da complexidade
disso tudo que é dito
há alguém
que pode ninar minha dúvida?
me recostar no ombro
a fim do meu sono tranquilo
será a morte
a grande carga
que encerra as interrogações?
será a vida
meramente
algo que não influi
decisivamente
no destino dela mesma
qual leme aponta esse barco de sentimentalismo, embarca o amor, fúria, angústia, inveja e todo os seguintes desejos que faz do homem a total inconstância.
e de que vale
as explanações em português
se há homem que não me lê
que não supre as magias desse código
para ele mesmo
que adianta eu reverberar a existência
se não consigo explicá-la
nomeá-la
dar cor
talvez som
e se não essas mesma barreiras
que me expulsam
a sabedoria de outras mentes
tão incríveis, salientes
e perturbadas
como a que tenho
sedenta por direção
e sustentar nela qualquer indício de uma verdade
não gosto,
não alimento,
mas não fujo,
eu
sou
confuso
desde
sempre
aprisionado nesse corpo
queria ser tantos
homens quanto pudesse
aprender como ser
vários homens o quanto pudessem
também ser eu
com os anos que acumulo
não posso fugir
da comparação clichê
com o espelho
que reflete agora
uma vontade de criança
de ver-me velho
com vinte e três anos
e ainda imaginar
tal qual meu rosto será
quando eu transfigurar a existência corpórea
e ter a irrisória
experiência final
que é nela que a completude se alicerça
que todo esse pensamento
se torna totalmente inútil
quando a carne esfria
e meus pulmões não quiserem mais
o que vocês expelem
em cima de mim
temo a vontade inevitável desse encontro
que, por mais humorado que esteja,
transformará como um sonho a minha existência
tenho me velado antes da hora
pela curiosidade de ver
o rosto da minha mãe
e de todos que por alguma ventura meu encontro tornou-se realizado
por tantas sandices que os encontros são regidos
aos que me tiveram notícia
que colecionou o meu rosto
ou o meu nome
entre tantas almas que vagam perdidas por essa passagem,
como a minha
Galo
Poema concorrente da BPP7 - Nº31
Raiva
hoje acordei assim
com vontade de dormir
não adianta adiantar-me
onde não consigo fincar
no ponteiro do relógio
residência, palavra ou esperança
de que vamos, de podres?
de que vamos, de ônibus podres?
respiro,
hoje acordei assim
com vontade de dormir,
e de que vale
o filme me distrair
a música me refletir
o espelho,
reflexo fiel,
já me disse:
— se um dia você acordar,
não se espante,
o mundo é isso mesmo
hoje eu acordei assim
com vontade de fugir
que nada me consola
nem o contra-cheque
nem o uísque com coca-cola
nada me
pertence mais que a vontade que fica, quica e emputece o desejo pueril, fraco, mundano e medroso, que mesmo me apertando os nervos não é capaz de me explodir inteiro. obrigo-me a aguentar.
é uma porrada
na face
de quem acha
que a minha verdade
tem validade
mesmo o quem
sendo quem
de frente pro espelho
me diz:
— eu sou.
hoje acordei assim,
com vontade de sorrir
que disfarço o meu desejo
de chorar
esfaquear a tragédia
sangrá-la
a fim do meu apogeu
como brasileiro
— ou outra coisa que me identifique —
mesmo sem tentar
um outro estado de realidade
é aqui,
— no absurdo aqui —
que estou acordado
com vontade de dormir.
Galo
Poema concorrente da BPP7 - Nº32
Vazia
correm no papel as letras
pelos pulsos elétricos do encéfalo
carregados na mancha gráfica
produzem sentidos uns e outros
conforme as cargas são conduzidas
blá, blá, blá, blá... blá, blá.
o que não vale
é qualquer poesia
espraiada
de carga vazia
que adianta
as palavras
pelas palavras
das palavras
a mero serviço
das palavras?
se não o castigo
das palavras
morderem as sílabas:
— sopro, sopro, sopro.
a poesia
contemporânea
tá feito pastel de vento
pior quem diz
que gosta da massa;
que a massa
recheada de vento
até o poema
embaça
(o poema usa óculos, e
com isso você não contava.)
Galo
Poema concorrente da BPP7 - Nº33
Vinheta
tendo a vida também
como substância
minha letra é estar
ser e continuar
sem fingir o caos
passado no filtro de papel
cá estamos
por acaso
sorte
ou problema
a poesia oferece: Jornal Nacional
Galo
Poema concorrente da BPP7 - Nº34
Contrato
fechei o contrato
com o produtor do poema
ele me disse:
— meu filho, você vai longe
mas precisa de um retoque
na sua retomada estética,
que pode o absurdo
encontrar-se com o nítido,
mas não pode
o texto fluido
se recostar
no inteligível.
agradeci aborrecido
que o produtor
quer mesmo
é pôr sentido no que digo
e contratou um diretor de arte
que me disse:
— o corpo celeste
e a catarse do medo
são fonte de ternura, também
não é possível
que a televisão
se esforce tanto
quando ela mesma
é que está aí mais que você,
meu rapaz
não tenha medo
de ser o mais lido
e vem o diretor de arte
com um outro cara
— o plano está confuso
é preciso mexer na fotografia —
e segue:
— que o que você escreve
não está no quadro
que você é jovem
e é comum errar
que precisa encaixar
a fala com o olhar e o gesto
dando a impressão
de expressão mais doce
mesmo que amarga
mais simples
mesmo que complexa
mais cor
mesmo que sem graça
e tudo que fecha
tem que estar
nesse limite
agora
fiquei extenuado
se o poema tiver
corpo formado
melhor seria
fazer decassílabo
que perder tempo
atrás do inédito
nem sempre
é sentimento
que conclui
aos que mandam
que querem o poema
na propaganda
da sua fama
e a minha atuação
fica comprometida
pela produção
multidirigida
sinto que o poema
vai ser sucesso
que talvez
seja tema de novela
e o diretor de arte
fica envaidecido
que o palatável
faça sentido
para o leitor-plateia
e eu, nesse conflito
assinei o papel
que dizia:
— este poeta,
que a vocês escreve
agora está detido
pelo que aqui está escrito
a que aqui ele não mexe
a que aqui ele não rima
a que aqui ele não funda parágrafo
e nesses termos
venhamos combinados
que o poema vire propaganda
que vire tema de novela
pelo sucesso do que aqui encerro,
e ademais, nada mais.
tá assinado.
Galo
Poema concorrente da BPP7 - Nº35
Devaneio
A solitária nostalgia doente
O canto estridente do demente
Carente do dente que mente
Não sente... Tão quente...
E canta, e chora, e sempre se esfola.
Tentando ser o que é, ou o que quer...
O sorriso insano, quase irônico
Palhaços mal pagos, tão cômicos!
Cama, mesa e banho: masoquismo irreal
O sadismo dos dias, sonho ideal
|Se dê... ou apenas sinta sem ver|
Amantes narcísicos,
Acha feio o que não é espelho
E dos seus fantasmas...Se esconde?
E os medos: te paralisam?
E sua voz, se prende na garganta?
E sua alma, tem um preço?
Sophie
Poema concorrente da BPP7 - Nº36
O Fantasma
Morto vivo?
Vivo morto!
Ignoto
Poema concorrente da BPP7 - Nº37
O que é o que é?
Reconheço de longe,
Não é padre e nem monge.
Adivinhe sem critério,
Não é real e nem só mistério.
Vida longa ou caminho curto
Pé na estrada, um absurdo.
Uma foice, um só remédio,
Um convite: saia do tédio.
Não adiantar negar, basta esperar:
Ela vem e vai te pegar.
Sra. Kelo Goven
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