terça-feira, 16 de novembro de 2010

E a concorrência não para de aumentar!!!!

Poema concorrente da BPP7 - Nº21

Com a pulga atrás da orelha.

Uma cigana me previu
Coisas que ninguém nunca
Imaginou
Depois sutilmente ela sorriu
E dengosa
Me provocou

Filhinha você nunca pensou
Que o que hoje lhe dói, amanhã certamente
Se evaporou?
Pelo dito e pelo não dito
A cigana se desculpou
Levantou-se calmamente e discreta
Se retirou.
E eu?
....................................................
....................................................
Fiquei com a pulga atrás da orelha.

(Maria Candelária)


Poema concorrente da BPP7 - Nº22

Petit  Mort

ela quer andar de mãos dadas
com a lolita que lhe deu sorvete
tem os peitinhos cor de pitanga
e mora no vale do loire

ela quer pegar na cintura
da mestra esbelta e ruiva
que fuma debaixo da chuva
nas escadarias da notre dame

ela quer beijar a vulva
da dançarina do moulin rouge
que morreu afogada no rio sena
e reaparece nas noites de lua cheia

ela quer chupar os seios
da vampira que saiu do filme
e acariciou suas coxas brancas
entre os túmulos do père lachaise

ela quer passar a mão na bunda
da dama de roupas negras
que vaga sem cabeça pelas ruas de paris
foi guilhotinada na revolução francesa

ela quer entrar na tela do italiano
masturbar a mona lisa
e sair limpando os dedos
nas saias das bailarinas de degas

ela quer cheirar a calcinha de frida kahlo
e depois se deitar com ela
no quarto amarelo de van gogh
o seu desejo não tem juízo

ela quer morder o pescoço
das prostitutas de lautrec
gozar na boca da vênus de milo
e enfiar a língua na origem do mundo

Cindir

Poema concorrente da BPP7 - Nº23

I 

do alto vôo dos seus pés
vou parar bem ali
onde encontro a mil pés
suas mãos

unidos em milhares de nós
nossas paixões se desfazem perdidas

hoje você desfilou do céu a terra
e nunca se soube de quem era aquele batom que deixou
a vida borrada,

fora esta ressaca infinita
fora o que ficou do que não é nem meu, nem seu

será que são os humores
ou as drogas

Sá Fouet

Poema concorrente da BPP7 - Nº24

II

deixe-me levá-la além
pois já estou a caminho

entre a corda
e tudo o que vc me pediu
e nunca fiz nada em troca

isso é amor?
respondia para si:
- é


mas eu não estou tensa, nem quero
a química tem seu valor

às vezes é bom ser
quem os outros pensam que é

(ao mesmo tempo que falava escutava)

e ali se libertava
era isto quase o tempo inteiro
fazia tudo o que queriam
e desejava o que desejam para si
quase o tempo inteiro

Sá Fouet


Poema concorrente da BPP7 - Nº25

III

por isso berrava, bebia e brigava
soltava mesmo os ferros nos verbos

devaneava de paixões
entardeercia de violões
quem disse que os sons tinham tempo

o fim do mundo não lhe passava de uma idéia
mesmo no fim algo profana a eternidade

não era linda aquela poesia
sua tristeza
e sua alegria

Sá Fouet

Poema concorrente da BPP7 - Nº26

IV

onde se pode escrever
onde se pode dizer
onde se pode pensar
onde se pode crer
onde se pode ir

não fomos a escola
nem fizemos o mobral

não aprendemos a andar
nem a falar

desde sempre nos encontramos
e cá estamos
rabiscando as paredes

Sá Fouet

Poema concorrente da BPP7 - Nº27

O verbo
violento do amor
a trepada
expressão idílica da dor

A ausência plena da paixão
Oh abadia in fértil
Claustro da juventude perdida

E não estamos todos aqui
No ventre tardia do gozo
O verbo pragueja como o vento
Ventre seco do amor

Sá Fouet

Poema Nº28

Fogo

quando voei pela rua
havia uma nuvem
encostada no carro
dos bombeiros
apagando o fogo
que queimava o asfalto
e a roda de aço
da carrocinha de pipoca
espalhou os milhos
que saltavam pelo calor
ploc, ploc, ploc
cresciam a nuvem
condensando a chuva
que apagou o incêndio

Galo

Poema concorrente da BPP7 - Nº29

Marte

há arte
em marte
por toda parte
poeira cantante
neoclássica
pixando o encarte
do marciano rapper
a falar-te
por partes as partes
que a arte de marte
demarca o roubar-te
do sono
de quem bate
na mesma parte
da mesma arte
e não percebe
que a água
não inicia a vida
e sim a parte
que nos cabe
da arte
que nos descabe
de marte
que nos acabe

há arte
em marte
por toda parte

Galo

Poema concorrente da BPP7 - Nº30

A chico Xavier

me explica o mistério
quem é bom entendor
que não há aqui
nessas teclas
qualquer informação que me valha
qualquer essência vívida, tateável

onde seremos
então
que se nem no papel
que se nem nos milênios de civilização
houve qualquer
luz
sobre essa escuridão
que me ilumina
tanto
a escerever
palavras e palavras
tentando entender
buscando na arte
algum sentido metafísico
alguma religiosidade

o cristianismo limita
o islamismo limita
o espiritismo limita
o islã, tupã, a vã filosofia

onde então recorrer
se o poeta não dá conta
da complexidade
disso tudo que é dito

há alguém
que pode ninar minha dúvida?
me recostar no ombro
a fim do meu sono tranquilo
será a morte
a grande carga
que encerra as interrogações?
será a vida
meramente
algo que não influi
decisivamente
no destino dela mesma

qual leme aponta esse barco de sentimentalismo, embarca o amor, fúria, angústia, inveja e todo os seguintes desejos que faz do homem a total inconstância.

e de que vale
as explanações em português
se há homem que não me lê
que não supre as magias desse código
para ele mesmo
que adianta eu reverberar a existência
se não consigo explicá-la
nomeá-la
dar cor
talvez som

e se não essas mesma barreiras
que me expulsam
a sabedoria de outras mentes
tão incríveis, salientes
e perturbadas
como a que tenho
sedenta por direção
e sustentar nela qualquer indício de uma verdade
não gosto,
não alimento,
mas não fujo,

eu
sou
confuso
desde
sempre

aprisionado nesse corpo
queria ser tantos
homens quanto pudesse
aprender como ser
vários homens o quanto pudessem
também ser eu

com os anos que acumulo
não posso fugir
da comparação clichê
com o espelho
que reflete agora
uma vontade de criança
de ver-me velho
com vinte e três anos
e ainda imaginar
tal qual meu rosto será
quando eu transfigurar a existência corpórea
e ter a irrisória
experiência final

que é nela que a completude se alicerça
que todo esse pensamento
se torna totalmente inútil
quando a carne esfria
e meus pulmões não quiserem mais
o que vocês expelem
em cima de mim

temo a vontade inevitável desse encontro
que, por mais humorado que esteja,
transformará como um sonho a minha existência

tenho me velado antes da hora
pela curiosidade de ver
o rosto da minha mãe
e de todos que por alguma ventura meu encontro tornou-se realizado
por tantas sandices que os encontros são regidos
aos que me tiveram notícia
que colecionou o meu rosto
ou o meu nome
entre tantas almas que vagam perdidas por essa passagem,

como a minha

Galo

Poema concorrente da BPP7 - Nº31

Raiva

hoje acordei assim
com vontade de dormir
não adianta adiantar-me
onde não consigo fincar
no ponteiro do relógio
residência, palavra ou esperança
 de que vamos, de podres?
 de que vamos, de ônibus podres?

respiro,
hoje acordei assim
com vontade de dormir,
e de que vale
o filme me distrair
a música me refletir
o espelho,
reflexo fiel,
já me disse:
— se um dia você acordar,
não se espante,
o mundo é isso mesmo

hoje eu acordei assim
com vontade de fugir
que nada me consola
nem o contra-cheque
nem o uísque com coca-cola
nada me

pertence mais que a vontade que fica, quica e emputece o desejo pueril, fraco, mundano e medroso, que mesmo me apertando os nervos não é capaz de me explodir inteiro. obrigo-me a aguentar.

é uma porrada
na face
de quem acha
que a minha verdade
tem validade
mesmo o quem
sendo quem
de frente pro espelho
me diz:
— eu sou.

hoje acordei assim,
com vontade de sorrir
que disfarço o meu desejo
de chorar
esfaquear a tragédia
sangrá-la
a fim do meu apogeu
como brasileiro
— ou outra coisa que me identifique —
mesmo sem tentar
um outro estado de realidade

é aqui,
— no absurdo aqui —
que estou acordado
com vontade de dormir.

Galo

Poema concorrente da BPP7 - Nº32

Vazia

correm no papel as letras
pelos pulsos elétricos do encéfalo
carregados na mancha gráfica
produzem sentidos uns e outros
conforme as cargas são conduzidas
blá, blá, blá, blá... blá, blá.

o que não vale
é qualquer poesia
espraiada
de carga vazia

que adianta
as palavras
pelas palavras
das palavras
a mero serviço
das palavras?

se não o castigo
das palavras
morderem as sílabas:
— sopro, sopro, sopro.
a poesia
contemporânea
tá feito pastel de vento

pior quem diz
que gosta da massa;
que a massa
recheada de vento
até o poema
embaça

(o poema usa óculos, e
com isso você não contava.)

Galo

Poema concorrente da BPP7 - Nº33

Vinheta

tendo a vida também
como substância
minha letra é estar
ser e continuar
sem fingir o caos
passado no filtro de papel
cá estamos
por acaso
sorte
ou problema
a poesia oferece: Jornal Nacional

Galo

Poema concorrente da BPP7 - Nº34

Contrato

fechei o contrato
com o produtor do poema
ele me disse:
— meu filho, você vai longe
mas precisa de um retoque
na sua retomada estética,
que pode o absurdo
encontrar-se com o nítido,
mas não pode
o texto fluido
se recostar
no inteligível.

agradeci aborrecido
que o produtor
quer mesmo
é pôr sentido no que digo
e contratou um diretor de arte
que me disse:
— o corpo celeste
e a catarse do medo
são fonte de ternura, também
não é possível
que a televisão
se esforce tanto
quando ela mesma
é que está aí mais que você,
meu rapaz
não tenha medo
de ser o mais lido

e vem o diretor de arte
com um outro cara
— o plano está confuso
é preciso mexer na fotografia —
e segue:
— que o que você escreve
não está no quadro
que você é jovem
e é comum errar
que precisa encaixar
a fala com o olhar e o gesto
dando a impressão
de expressão mais doce
mesmo que amarga
mais simples
mesmo que complexa
mais cor
mesmo que sem graça
e tudo que fecha
tem que estar
nesse limite

agora
fiquei extenuado
se o poema tiver
corpo formado
melhor seria
fazer decassílabo
que perder tempo
atrás do inédito
nem sempre
é sentimento
que conclui
aos que mandam
que querem o poema
na propaganda
da sua fama
e a minha atuação
fica comprometida
pela produção
multidirigida
sinto que o poema
vai ser sucesso
que talvez
seja tema de novela
e o diretor de arte
fica envaidecido
que o palatável
faça sentido
para o leitor-plateia

e eu, nesse conflito
assinei o papel
que dizia:
— este poeta,
que a vocês escreve
agora está detido
pelo que aqui está escrito
a que aqui ele não mexe
a que aqui ele não rima
a que aqui ele não funda parágrafo
e nesses termos
venhamos combinados
que o poema vire propaganda
que vire tema de novela
pelo sucesso do que aqui encerro,
e ademais, nada mais.

tá assinado.

Galo

Poema concorrente da BPP7 - Nº35

Devaneio

 A solitária nostalgia doente
O canto estridente do demente
Carente do dente que mente
Não sente... Tão quente...

E canta, e chora, e sempre se esfola.
Tentando ser o que é, ou o que quer...

O sorriso insano, quase irônico
Palhaços mal pagos, tão cômicos!
Cama, mesa e banho: masoquismo irreal
O sadismo dos dias, sonho ideal
|Se dê... ou apenas sinta sem ver|

Amantes narcísicos,
Acha feio o que não é espelho

E dos seus fantasmas...Se esconde?
E os medos: te paralisam?
E sua voz, se prende na garganta?
E sua alma, tem um preço?

Sophie

Poema concorrente da BPP7 - Nº36

 O Fantasma

Morto vivo?
Vivo morto!
Ignoto
Poema concorrente da BPP7 - Nº37

O que é o que é?

Reconheço de longe,
Não é padre e nem monge.
Adivinhe sem critério, 
Não é real e nem só mistério.

Vida longa ou caminho curto
Pé na estrada, um absurdo.
Uma foice, um só remédio,
Um convite: saia do tédio.

Não adiantar negar, basta esperar:
Ela vem e vai te pegar.

Sra. Kelo Goven

 
 
 
 
 
 
 

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