Poema
N°36
EU
LHE DAREI O CÉU MEU BEM
Quando
eu nasci,
Deus
soprou no meu ouvido
Vá
meu filho
E
me represente
Me
divulgue,
Sempre
Em
todas as ocasiões
Mesmo
quando estiver escovando os dentes
Com
uma pasta nova
Ou
quando
Estrear
uma roupa de cama.
E
deitado sobre os travesseiros
Sorrir
de felicidade
Registre
no seu face book
Cada
minuto de seu dia
Lembre-se
Você
está me representando
Nada
é desimportante para o escolhido
Sua
função
É
manter sua imagem
Onipresente
Lembre-se
Sua
imagem
É a
minha imagem
Abra
mão de sua privacidade.
Esqueça
que
O
primeiro encontro com a amada
Possa
acontecer entre quatro paredes
Ou
num barzinho de periferia
Que
ninguém freqüenta
E
quando nascer
O
primeiro dente
De
seu primeiro filho
Divulgue
meu neto
Rindo,
chorando
Não
importa
E
também
Seus
primeiros passinhos,
E
aquela festinha de comemoração
Porque
ele
Parou
de usar fraldas
Tudo
será motivo
Para
uma divulgação
Até
mesmo um dia de faxina
Quando
a esposa estiver viajando
E
você como bom marido
Vassoura
na mão
E
pano de chão
Quiser
lhe fazer uma surpresa
Faça
isto
Meu
filho
E
como prêmio
Eu
lhe darei o céu
Meu
bem
E o
meu amor
Também
Roberto
Carlos
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Poema
N°37
Gente
reciclada
Segui no tempo, fui vã
No retorno me entreguei
Como chuva temporã
Na rua desaguei
Me fiz enxurrada turva
Absorvi muitos entulhos
Fui lixo na curva
Cacos em embrulhos
Pelas entranhas do submundo
Tornei-me parasita no imundo
Senti a carne em sangue vivo
Provei do fogo quente do
crivo
Bebi o amargo das dores
Regurgitei micróbios em
flores
Passei pela máquina da
transformação
Estava no caminho da
superação
Trouxe da natureza a
humildade
Feito parafuso em aperto e
regulagem
Recebi o selo de
sustentabilidade
Da vida sou peça de
reciclagem
Savana
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Poema
N°38
Às vezes a tristeza é poesia
Versos nem sempre são feitos de alegria
A tristeza nos dá o efeito das sombras
Uma bela fotografia não se faz só de luz
Como o chão com alfombras
Ou o mártir e a cruz
Savana
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Poema
N°39
animal
dentro do homem é bicho
homem
dentro do animal é fera
lobo
em pele de cordeiro
cordeiro
em pelo de onça
animal
dentro do homem se solta sem avisos
homem
dentro do animal se aprisiona na rigidez da pele
homem
é bicho fera
fera
é bicho homem
tanto
faz, enfim
bicho
ou homem
em
pelo ou pele
são
feras sim
Savana
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Poema
N°40
ASSASSINOS
DO PRESENTE
Em
cada fio de faca
pesada
de solidão,
em
cada dente do pente
que
resvala em teus cabelos
somos
assassinos do presente.
Matamos
a raiz, hereditária
na
construção genética.
Sorrimos
ao matar.
Gargalhamos
no cair ao chão
um
corpo frívolo e casto.
Matamos
ao seguir em frente.
Ao
badalo do sino
da
Matriz.
Somos
assassinos do presente.
Ladrões
do passado,
covardes
do futuro.
Cadáveres
do tempo, presos
à
ampulheta verdejante
de
corpos gastos, que caem e serpenteiam
como
o pente.
Matamos
o homem, a mente,
o
corpo, o tempo, a cor indiferente ao corte.
Somos
assassinos do presente.
Matamos
o vácuo ordinário e frio
de
grau, degrau, degradante.
Se
caímos ao subir? Persistir ? Matar?
Com
que arma? Com que voz?
Sim!
Não! …. não, sim !
São
gritos alucinantes, cobertos de
nostalgia
num olho demente.
Somos
assassinos do presente.
Combato
o diafragma.
Dia..
Fraga..
Mar...
Descemos
nas descargas do momento
com a
podridão entre as narinas.
Meninas?
Meninos!
Mas
que belo rebanho de gente.
Mas
que belo par de dentes,
prontos,
a espera de mistificar
ou
talvez arrancar.
Entre
as paisagens frescas e neutras
um
belo rebanho de gente
Matamos
! Porquê ?
-
Somos assassinos do presente.
Basta
!!!!
À
fúria bestial do ser ausente
prefiro
a saudade à presença.
- Que
tal presente ?
“ Nem
nunca o cavalo de Tróia
cavalgo
a esmo”, matamo-lo
madeira
à pedra jogada entre
parênteses.
Grito
com a maior força dos deuses,
dos
ordinários, dos vis, dos monstros,
dos
covardes, dos mortos, dos descrentes,
das
feras, das vulgas, das castas.
“
Somos assassinos do presente”
-
BASTA !!
Menotti
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