sexta-feira, 21 de novembro de 2014

MAIS ALGUNS POEMAS QUE CHEGARAM 

Poema N°36

EU LHE DAREI O CÉU MEU BEM

Quando eu nasci,
Deus soprou no meu ouvido
Vá meu filho
E  me represente
Me divulgue,
Sempre
Em todas as ocasiões
Mesmo quando estiver escovando os dentes
Com uma pasta nova
Ou quando
Estrear uma roupa de  cama.
E deitado sobre os travesseiros
Sorrir de felicidade
Registre no seu face book
Cada minuto de seu dia
Lembre-se
Você está me representando
Nada é  desimportante para  o escolhido
Sua função
É manter sua imagem
Onipresente
Lembre-se
Sua imagem
É a minha imagem
Abra mão de sua privacidade.
Esqueça que
O primeiro encontro com a  amada
Possa acontecer  entre quatro paredes
Ou num barzinho de periferia
Que ninguém  freqüenta
E quando nascer
O primeiro dente
De seu primeiro filho
Divulgue meu neto
Rindo, chorando
Não importa
E também
Seus primeiros passinhos,
E aquela festinha de comemoração
Porque ele
Parou de usar fraldas
Tudo será motivo
Para uma divulgação
Até mesmo  um dia de faxina
Quando a esposa estiver viajando
E você como bom marido
Vassoura na mão
E pano de chão
Quiser lhe fazer uma surpresa
Faça isto
Meu filho
E como prêmio
Eu lhe darei o céu
Meu bem
E o meu amor
Também
                     
Roberto Carlos

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Poema N°37

Gente reciclada

Segui no tempo, fui vã
No retorno me entreguei
Como chuva temporã
Na rua desaguei

Me fiz enxurrada turva
Absorvi muitos entulhos
Fui lixo na curva
Cacos em embrulhos

Pelas entranhas do submundo
Tornei-me parasita no imundo
Senti a carne em sangue vivo
Provei do fogo quente do crivo

Bebi o amargo das dores
Regurgitei micróbios em flores
Passei pela máquina da transformação
Estava no caminho da superação

Trouxe da natureza a humildade
Feito parafuso em aperto e regulagem
Recebi o selo de sustentabilidade
Da vida sou peça de reciclagem

Savana

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Poema N°38


Às vezes a tristeza é poesia
Versos nem sempre são feitos de alegria
A tristeza nos dá o efeito das sombras
Uma bela fotografia não se faz só de luz
Como o chão com alfombras
Ou o mártir e a cruz

Savana

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Poema N°39


animal dentro do homem é bicho
homem dentro do animal é fera
lobo em pele de cordeiro
cordeiro em pelo de onça
animal dentro do homem se solta sem avisos
homem dentro do animal se aprisiona na rigidez da pele
homem é bicho fera
fera é bicho homem
tanto faz, enfim
bicho ou homem
em pelo ou pele
são feras sim

Savana

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Poema N°40

ASSASSINOS DO PRESENTE

Em cada fio de faca
pesada de solidão,
em cada dente do pente
que resvala em teus cabelos
somos assassinos do presente.

Matamos a raiz, hereditária
na construção genética.
Sorrimos ao matar.
Gargalhamos no cair ao chão
um corpo frívolo e casto.
Matamos ao seguir em frente.
Ao badalo do sino
da Matriz.
Somos assassinos do presente.

Ladrões do passado,
covardes do futuro.
Cadáveres do tempo, presos
à ampulheta verdejante
de corpos gastos, que caem e serpenteiam
como o pente.
Matamos o homem, a mente,
o corpo, o tempo, a cor indiferente ao corte.
Somos assassinos do presente.

Matamos o vácuo ordinário e frio
de grau, degrau, degradante.
Se caímos ao subir? Persistir ? Matar?
Com que arma? Com que voz?
Sim! Não! …. não, sim !
São gritos alucinantes, cobertos de
nostalgia num olho demente.
Somos assassinos do presente.

Combato o diafragma.
Dia..
Fraga..
Mar...
Descemos nas descargas do momento
com a podridão entre as narinas.
Meninas? Meninos!
Mas que belo rebanho de gente.
Mas que belo par de dentes,
prontos, a espera de mistificar
ou talvez arrancar.
Entre as paisagens frescas e neutras
um belo rebanho de gente
Matamos ! Porquê ?
- Somos assassinos do presente.
Basta !!!!

À fúria bestial do ser ausente
prefiro a saudade à presença.
- Que tal presente ?
“ Nem nunca o cavalo de Tróia
cavalgo a esmo”, matamo-lo
madeira à pedra jogada entre
parênteses.
Grito com a maior força dos deuses,
dos ordinários, dos vis, dos monstros,
dos covardes, dos mortos, dos descrentes,
das feras, das vulgas, das castas.
“ Somos assassinos do presente”

- BASTA !!


Menotti


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